domingo, 1 de julho de 2018

Alfabetização


Sobre alfabetização, Gramsci coloca que a mesma devia radicar-se em um espírito de crítica e num projeto que permita com que as pessoas participem da compreensão e da transformação da sociedade. Alfabetização seria um domínio de habilidades específicas e de formas particulares de conhecimento, deveria se tornar uma precondição da emancipação social e cultural.


Em países, como os Estados Unidos, a linguagem da alfabetização vincula-se quase que exclusivamente a formas populares do discurso liberal e de direita, que a reduzem, ou a uma perspectiva funcional ligada a interesses econômicos concebidos de maneira acanhada, ou a uma ideologia destinada a iniciar os pobres, os desprivilegiados e as minorias na lógica de uma tradição cultural unitária e dominante.


Na primeira colocação sobre alfabetização, verificamos que existe uma crise na mesma, pois na necessidade de formar trabalhadores para ocupações que exigem leitura “funcional” e habilidade para escrever, um movimento mecânico, as pessoas acabam sendo impedidas de participar de fato de movimentos para a sua emancipação cultural, como pensar, refletir, dialogar, apenas são treinados para um treino.


Na segunda colocação, vemos a alfabetização como um veículo ideológico, onde a escolaridade é vista como local para desenvolver caráter, assim, a alfabetização está associada à transmissão e ao domínio de uma tradição ocidental unitária, baseada nas virtudes do trabalho perseverante, da diligência, do respeito à família, da autoridade institucional e de um indiscutível respeito pela nação.


No íntimo dessa fala dominante, o analfabetismo não é meramente a incapacidade de ler e escrever; é também um indicador cultural para nomear formas de diferença dentro da lógica da teoria da privação cultural.


As pedagogias que frequentemente acompanham essa visão da alfabetização enfatizam a necessidade de que as crianças de classe operária aprendam as habilidades de ler e escrever, pois precisarão delas para serem bem-sucedidas nas escolas.


A alfabetização não se relaciona apenas com os pobres, ou com a incapacidade dos grupos subalternos de ler e escrever adequadamente; relaciona-se, também, de maneira fundamental, com formas de ignorância política e ideológica que funcionam como uma recusa em conhecer os limites e as consequências políticas da visão de mundo de cada um.


O desenvolvimento de uma política cultural da alfabetização e da pedagogia torna-se uma partida importante para possibilitar que aqueles que têm sido silenciados ou marginalizados pelas escolas, pelos meios de comunicação de massa, pela indústria cultural e pela cultura televisiva exijam a autoria de suas próprias vidas.


Uma teoria emancipadora da alfabetização indica a necessidade de desenvolver um discurso alternativo e uma leitura crítica de como a ideologia, a cultura e o poder atuam no interior das sociedades capitalistas tardias no sentido de limitar, desorganizar e marginalizar as experiências quotidianas mais críticas e radicais e as percepções de senso comum dos indivíduos.


Para freire a alfabetização é igual a projeto político emancipador. É essencial na alfabetização uma relação dialética dos seres humanos com o mundo e da linguagem com a ação transformadora. Neste caso a alfabetização não é apenas uma habilidade técnica, mas um fundamento para a ação cultural, a liberdade, é através da alfabetização que homens e mulheres afirmam seu direito e sua responsabilidade não apenas de ler, compreender e transformar suas experiências pessoais, mas também de reconstituir sua relação com a sociedade mais ampla, tornando as pessoas autocríticas a respeito da natureza historicamente construída de sua própria experiência.


Procurando a palavra "empowerment" no Wikipédia, temos o seguinte significado: “Empowerment , ou delegação de autoridade, é uma abordagem a projetos de trabalho que se baseia na delegação de poderes de decisão, autonomia e participação avaliando grau de maturidade...” E também o que significava para Paulo Freire: ... a ação coletiva desenvolvida pelos indivíduos quando participam de espaços privilegiados de decisões, de consciência social dos direitos sociais, consciência que ultrapassa a tomada de iniciativa individual de conhecimento e superação de uma situação particular (realidade) em que se encontra, e que possibilita tanto a aquisição da emancipação individual, quanto à consciência coletiva necessária para a superação da “dependência social e dominação política”.


Vejamos o poema abaixo:

Analfabeto Político


Bertolt Brecht

"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais."

Então podemos concluir que o empowerment individual não é nada mais do que o poder de conscientização das pessoas em relação a sua condição como indivíduos participantes e atuantes dentro da sociedade. Que não basta o indivíduo ser alfabetizado se for um analfabeto social, ou seja, se não puder se indignar, reclamar e mudar a realidade em que vive. Enquanto nos preocupamos socialmente com o que podemos extrair do ambiente em que vivemos, e na melhor forma de viver nele, as escolas ainda tem o pensamento de formar pessoas limitadas de acordo com o currículo estabelecido pelas autoridades, que no fundo não querem que tenhamos uma população de sujeitos pensantes ou questionadores da situação em que são obrigados a viver. Não podemos permitir que nossos alunos sejam apenas alfabetizados, precisamos levá-los a ser alfabetizados empoderados de seu conhecimento.

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